martes, septiembre 27, 2011

nosso som

Cinzeiro cheio e copo vazio. Corpo inquieto. Mente inquieta. Mens sana in corpore, bláblá. Acho que nunca pensou que ouvir choro fosse tão, perturbador?

Olha, eu sei que tu tem um monte de coisas pra fazer, assim como todos sempre tem, e ninguém nunca, se permite o ócio, mas, mas, mas.

Fica só mais um pouco aqui comigo, deitado nesse sofá, com a cabeça apoiada nas minhas pernas, me conta da tua vida, diz que não deu nada certo, só pra variar um pouco, que não vê a hora de tudo voltar a ser como antes, e que nada, nunca vai voltar a ser como antes, porque só o que importa agora é o agora mesmo e sinceramente, só o que existe é o antes.

Aquela nostalgia que não acaba nunca e que de repente vem uma música e lembra, e vem um cheiro, e vem uma cor, e vem aquela sensação que vem junto com tudo isso, aquela sensação que já sabe de cor e já sabe que é bem inquietante. E perturbadora.

E agora troca a música, enche o copo, esvazia o cinzeiro.

E já pode ir embora novamente.

lunes, febrero 28, 2011

no amplo universo
onde se encontram os gestos
pequenos gestos são grandes
de fato
restos são restos.

lunes, febrero 07, 2011

Nunca

O último copo é o que dói mais. Esperar por uma noite que não chega, por alguém que nunca disse que viria. Ela se faz precisa toda enrolada em um edredom de abraços imaginários.

Não aguentava mais cigarros. Não aguentava mais. Os olhos vermelhos e cansados da noite que nunca chegava. E nunca acabaria, aquilo. As pessoas que não iam embora, aquilo. Pouco a pouco as pessoas indo embora e o momento chegando, aquilo. Isso: a esperança que sempre restava e o fazia acender mais um cigarro.


O cinzeiro verde musgo do lado da cama. A colcha verde a parede verde o pensamento verde os olhos pretos e a fumaça azul. Talvez cinza. Talvez verde. Talvez nunca. Nunca a barriga pra cima o corpo esticado reto sobre a cama, o corpo nu e esticado reto sobre a cama. Nunca o sono. Levantava pra ir até o banheiro, o chão gelado, o corpo quente. Quente nu e ereto. Sobre o chão, o chão de toda a casa: o mundo.

Ela se faz precisa toda enrolada em um edredom de abraços imaginários.

Um copo de água e um cigarro na sala. Talvez ligasse a tv, talvez abrisse a janela, talvez alguém tocasse a campainha, talvez alguém ligasse, talvez algum recado. Seria melhor não checar. Mas checava. Seria melhor não esperar, mas esperava. A noite que nunca chega. Os cigarros que nunca acabam e o sono que nunca vem.


Uma pilha de revistas. Várias pilhas de discos. Vários cadernos empilhados anotações espalhadas desenhos espalhados tintas espalhadas canetas espalhadas enormes instrumentos bloqueando a passagem de sonhos espalhados. Distração noturna era organizar tudo. Juntar o lixo, esvaziar os cinzeiros.

Voltar a cama seria perder tempo tão não precioso. Poderia tentar se distrair sozinho, se fazer sono, repetindo palavras incessantemente até a realidade se misturar com o sonho, até não entender. Não poder mais.

Mas seria perder tempo.


O corpo esticado reto sobre a cama, o corpo nu esticado reto sobre a cama. Não teria sono. Nunca. Poderia sonhar e seria atormentador. Como foi na noite passada, como tinha sido em todas as últimas noites. A única coisa que o fazia se sentir acompanhado, mesmo distante. SOZINHO. É uma palavra que de repente dói. E de repente conforta. E de repente amedronta. E de repente conforta.

Sozinho.

O corpo esticado reto sobre a cama. O corpo nu esticado reto sobre a cama.

O sono que não vem. A noite que não chega. Alguém que nunca virá.

O sono que não vem. A campainha que não toca. O telefone que não toca. O recado que não chega.

O cigarro que acaba.

O sonho que não quer que venha. Nunca.

Ela se faz precisa toda enrolada em um cobertor de abraços imaginários.

O abraço que não vai deixar de ser imaginário.

Nunca.