jueves, enero 25, 2007

A Borboleta

Queria chorar. Não por tristeza ou por dor. Nem por raiva ou nervosismo. É como se uma coisa aqui dentro doesse porque é predestinada a doer. Chega uma hora que tu pára e pensa: nada daqui para frente me parece interessante, e o que me parecia interessante antes, já não me parece mais. Então apenas o que resta é passar um café. E tomá-lo olhando a rua.

Hoje eu não vou escrever sobre cafés. E nem sobre cigarros. E nem sobre pessoas tristes sem nome, sem rosto e sem expressão. Perdidas em pensamentos turvos. E nem sobre coisas quebradas. Não falo da chuva – nem do cheiro da chuva - não tentarei descrever o pôr-do-sol. Não usarei a palavra Crepúsculo. Hoje não farei textos sobre a Angústia.

Hoje eu vou falar sobre uma borboleta: uma borboleta que entrou no meu quarto. Tinha as asas de um verde bonito. E me lembrava alguém.

Então a borboleta saiu pela janela aberta. Voou para longe. E eu nunca mais a vi.

viernes, enero 05, 2007

Cenas Não Tão Cotidianas

04:47
Está frio na rua –fumo sentado no parapeito da janela- meu peito nu encontra a brisa gelada da madrugada. Aviões cruzam meu céu. Sirenes. Cristais.

Ponto de Ônibus
Ela passou por mim e tossiu.
E isso não fez sentido algum.

Diálogos I
- Ela é uma piranha, entende? Uma piranha.
- Sua voz ecoa como uma Cítara. Toco seu corpo como se fosse tocar levemente na pele de um Derbake. Faço música com seu corpo. Sinfonia inacabada em uma noite de luar.
- Porque mantém algo com ela se é a mim que queres?
- Morro com seu sorriso, assim como nasci com seu talvez.

Minha puta de quarta-feira
Um dia de Outono em que a gente sente o silêncio, sente as folhas caindo no chão, sente o azul do dia encontrando o escuro da noite e formando o degradée, que por sua vez forma o crepúsculo. Sente a mão passeando pelos cabelos – ou deseja tanto que imagina sentir a mão passeando pelos cabelos – como se sentíssemos uma música ao fundo – violinos – ficamos os dois em silêncio a sentir, e apenas sentir.


Diálogos II
- Tu nem sabes o que quer!
- Quero pegar-te pelo braço, jogar-te dentro de um carro e fugir para as montanhas o mais rápido possível.
- E porque não faz isso?
- Tu nunca gostou de montanhas.

Presença-não-Presença
Incrível como sua presença me faz bem, não física, presença-não-presença. Pois se estou sentado a essa hora escrevendo é para ti e apenas para ti. Cada texto que produzo é teu e apenas teu. Tento me convencer de que isso é besteira, de que no fundo produzo mais para mim do que para qualquer outra coisa, ou pessoa, ou coisa, que na verdade o texto pertence mesmo ao mundo e que daqui a pouco esqueci quem era o ti a quem pertenciam as palavras. Mas sei que passe o tempo que for, te reconhecerei nesta palavra e naquela linha.

Ameixas
E então ele me olhou e disse: Nada mais sensual do que uma Ameixa absolutamente madura.